O Corpo

Força, resistência, coordenação, flexibilidade, leveza, plasticidade, beleza, adaptabilidade, fragilidade, serenidade, sofrimento, prazer, cansaço, alienação, motivação, espoliação, memória ...

Ele nos conduz pela vida conforme a roupagem que vestimos:

Se for a de uma criança, o movimento é natural, intenso, imaginativo; se bem que se é na pele de uma menina algumas restrições já aparecem.

Ao vestir a roupa de um gari, seu coração se fortalece de tanto correr à custa de ter que sentir o odor putrefato de toda uma cidade.

E se veste a roupa de um pedreiro ou trabalhador rural, o peso da vida é sentido precocemente.

Já se o “traje” é de profissional da justiça, do direito, invariavelmente, é condenado à sua cadeira (por força do ofício), se bem que goza da prerrogativa de poder escolher entre um hobbie e outro.

Há ainda aquele que, praticamente, não veste roupa alguma, como o morador de rua, muitas vezes considerado estranho por amargar certos efeitos dopantes, e que apesar de tudo, persiste em sua jornada incansável e definha-se em busca de um mísero alimento.

E sobre aquele que recai o “manto” do desemprego? Na maioria das vezes seu corpo se fecha; muitos se lançam em uma longa e disputada peregrinação; e haja resistência; alguns se resignam...

Para aqueles que o universo do esporte se abre, têm a chance de experimentar alegrias e dores, valores individuais e coletivos, sensações de êxito e fracasso; frequentemente dizem que muita coisa aprendeu! Para alguns poucos desses, a experiência é mais intensa e profunda, praticamente sua vida é essa indumentária; depois de um tempo, relativamente curto, a despeito de glórias, se veem forçados a se despir e parcela considerável desses corpos sucumbem...

Para as mulheres, que por espontânea vontade ou não, venham experimentar o manto materno, revela-se incrível a capacidade de lidar com o (sobre) peso, carregando em si a beleza e o dom de muitas vidas. Seus corpos transformam-se para sempre!

Se visto a roupa de um poeta, o corpo pode ser insustentável, mas também pode desenvolver uma força descomunal.

O que dizer da vestimenta das des/em (pregadas) domésticas e dos funcionários das limpadoras das empresas/instituições, submetidos a esforços repetitivos... São ícones representativos dos “corpos dóceis” de Foucault.

Um olhar displicente para os estudantes, de todas as idades, e tendemos a uniformizá-los em seu destino de abrir portas e janelas para o futuro. E seu corpo presente o que vive?

As grandes corporações de todos os matizes, num movimento paradoxal e numa voracidade alucinante, desincorporam a trama do tecido social e estabelecem uma tramoia de incorporação, apropriação de diversos setores da sociedade, “domesticando”, padronizando, e por vezes, paralisando os corpos sociais.

O corpo docente, como um pó de giz que vem caindo, sofre um golpe baixo a cada dia; desrespeitado, desvalorizado, rotulado, se segura como pode pra não deixar cair um dos símbolos de resistência, talvez seu gesto mais primoroso no ofício de educador: o ato de ensinar o livre pensar...

O fardamento por sua vez, em seus diversos campos, segue enrijecendo os corpos em nome de um tradicionalismo que se alimenta de procedimentos ultrapassados, por que não dizer desumanizantes.

Cidadão comum: “com que roupa eu vou?” Quando vai não é fruto de seu livre arbítrio (ou escolha), mas da metamorfose social que implantou o estilo padrão a praticamente todo cidadão; sua rotina e modus operandis, a relação de trabalho é standard, o desligamento é padrão e não há conversa com o “patrão”. Quando é convidado, método que vem crescendo, por meritocracia ou QI, seu estilo é dado pela mão invisível (nem tanto assim) do mercado. Mas para ser coerente com exigências de um mundo mais sustentável, ambos têm algo em comum: são corpos facilmente recicláveis.

Corporativistas crescem exponencialmente. Felizmente corpos ativistas também.

Então, como escolher atividades físicas e esportivas (AFEs) se meu corpo adquire contornos do mundo possível que vivo?

Sem jamais perder de vista a condição sócio-histórica, cultural e ética do corpo, mas valendo-se de uma interpretação pessoal, poderíamos configurar as AFEs em duas formas gerais:

- produto comercial criado artificialmente;

- produto cultural construído histórico-socialmente.


A diferença está na substância e no discurso.


Corpo do autor superficialmente conhecido. Sua pessoa, em certas dimensões, profundamente desconhecida.

Maykell Araújo Carvalho, educador do CEPEUSP

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